Sistema Cantareira tem maior nível em 11 anos

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Sistema responsável pelo fornecimento de água em São Caetano e em parte de Santo André, o Cantareira registrou volume operacional de 79,6% neste domingo (19). O percentual de armazenamento do reservatório é o maior em 11 anos, quando chegou a 79,5% de sua capacidade em 9 de setembro de 2011. No auge da crise hídrica, entre 2014 e 2015, ele chegou a operar com 16% e, inclusive, foi necessário utilizar o chamado volume morto – ou reserva técnica – para garantir o abastecimento da Região Metropolitana.

As cidades da região são abastecidas por mais três sistemas. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) classifica o nível do Rio Grande como ‘excelente’, do Rio Claro como ‘normal’ e o Alto Tietê como ‘normal’.

O sistema Rio Grande – braço produtor de água da Represa Billings – trabalhava ontem com 102,4%, quantidade maior que seu volume operacional. A marca é semelhante a do ano de 2022, 104,1%. O sistema atende 1,4 milhão de habitantes em três municípios da região, São Bernardo, Diadema e cerca de um terço de Santo André e, quando necessário, bombeia água para o sistema Alto Tietê.

O sistema Rio Claro, responsável pelo fornecimento de água para parte de Mauá, Ribeirão Pires e Santo André, manteve índices similares aos últimos anos. Em 16 de março do ano passado o volume era de 42,1%, similar ao apresentado no domingo (19), de 43,2%. O sistema Alto Tietê, que abastece Mauá e parte de Santo André, também operava ontem (19) com 73,9% do volume operacional, maior marca desde os 74% atingidos em 21 de junho de 2020.

A Sabesp, que disponibiliza os dados por meio do Portal dos Mananciais, informou que as chuvas recentes e a gestão integrada do sistema metropolitano têm refletido positivamente nos níveis dos reservatórios. A companhia, porém, segue orientando o uso consciente da água em qualquer época, independentemente dos níveis.

As fortes chuvas são apontadas por Melissa Graciosa, professora de hidráulica e drenagem da UFABC (Universidade Federal do ABC), como o principal fator para o alto volume. De acordo com a especialista, as chuvas no período de outubro de 2022 a fevereiro de 2023 estiveram acima da média nas bacias que atendem o Grande ABC. “Pode-se considerar que a pluviometria acima da média, especialmente nos mananciais Cantareira e Billings-Tamanduateí, são a causa do aumento da disponibilidade hídrica nos sistemas”, afirma a docent

Para que se possa poupar os recursos hídricos registrados neste ano para novos episódios de emergências hídricas, como o registrado em 2014, a professora aponta medidas como uma estruturação maior dos sistemas para aproveitar o máximo possível de seu volume útil, e a constante fiscalização em áreas de mananciais ocupadas. “Medidas de manutenção nas redes e regularização das ligações precisam ser intensificadas. Também, o controle da ocupação irregular de áreas de mananciais precisa ser melhor realizado, principalmente com a fiscalização integrada. Preservar as áreas de manancial é fundamental para garantir o acesso da população à água em quantidade e qualidade necessárias. A degradação ambiental das áreas de mananciais agrava a escassez hídrica porque torna as águas poluídas e muito difíceis de serem tratadas para consumo humano”, afirma a professora.

OPERAÇÃO NORMAL

Desde janeiro operando na faixa de atenção, quando acumulava entre 40% e 60% da capacidade, o Sistema Cantareira voltou à faixa de operação normal, com volume útil acumulado igual ou maior que 60%. Agora a Sabesp poderá captar até 33 metros cúbicos por segundo dos reservatórios, o que não acontecia há dois anos.

O limite máximo é definido pela Resolução Conjunta ANA/DAEE nº 925/2017. O documento estabelece cinco faixas de operação no manancial, visando aumentar a segurança hídrica do sistema e a previsibilidade sobre as condições futuras do sistema, que abastece 6,7 milhões de pessoas na Região Metropolitana.

 

Conforme divulgado pela ANA (Agência Nacional de Águas), “a recuperação do armazenamento dos reservatórios do Sistema Cantareira se deve às vazões afluentes (que chegam ao manancial) dos últimos meses, que, embora tenham ficado abaixo da média durante todo o ano de 2022 e superado a média somente em fevereiro de 2023, contribuíram para o aumento do armazenamento. O volume útil é aquele disponível para os usos da água e, somado ao volume morto, resulta na capacidade máxima de armazenamento do reservatório”. A Agência aponta também a resolução citada e obras da Sabesp como fatores para o alto nível de abastecimento.

CHUVAS DEVEM DIMINUIR NA REGIÃO DURANTE O OUTONO

Conforme noticiado pelo Diário no início da última semana, os municípios do Grande ABC registraram, em fevereiro, 2.850,2 mm (milímetros) acumulados de chuva, segundo dados do Agritempo (Sistema de Monitoramento Agrometeorológico), plataforma ligada à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A média mensal prevista era de 1.624 mm. O número é o maior desde 2013, quando o volume chegou a 2.906,9 mm na região. Em comparação ao último ano, quando houve queda de 831,3 mm nas sete cidades, o número aumentou 242%.

 

De acordo com Juliana Hermsdorff, meteorologista da Squitter, o Verão – estação do ano vigente no primeiro bimestre – é conhecido por ser uma época chuvosa no Sudeste. Com isso, os volumes de chuva são climatologicamente elevados. No caso do Grande ABC, a especialista aponta que, em 2023, houve uma maior concentração em um mês em específico. Juliana, no entanto, aponta uma redução gradual das chuvas durante as próximas semanas, em decorrência do início do Outono.

“Até o início do Outono, que se inicia neste dia 20 de março, a previsão é que as chuvas intensas no fim do dia reduzam no Grande ABC, por conta da influência de um sistema de alta pressão no oceano, que mantém as condições atmosféricas no continente mais estáveis. Uma característica do Outono, estação de transição entre o período chuvoso e o mais seco no Sudeste, é a redução gradual do volume de chuva em comparação com o Verão. Principalmente no início, ainda podem ocorrer chuvas em forma de pancadas”, afirma a especialista. Ao contrário de 2023, nos últimos anos o mês de janeiro registrou os maiores picos de queda de chuva.

Por Renan Soares

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