Segundo rompimento de barragem; quantas mais?

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O que jamais deveria ocorrer, ocorreu. O rompimento da barragem de Brumadinho/MG de responsabilidade da Vale Mineradora, na segunda quinzena de janeiro, fez reviver a tragédia de Mariana, só que em proporções muito maiores.
Segundo os bombeiros que trabalham no local, no sábado, dia 26, 361pessoas foram localizadas e 287 continuavam desaparecidas. Já na segunda-feira, dia 28, durante o fechamento desta edição já se contabilizava 58 mortos e 305 desaparecidos. Isso quer dizer que ainda é cedo para sabermos exatamente quantas são as vitimas fatais, as vítimas parciais, quais os prejuízos evidentes na vida das pessoas, de animais e do meio ambiente.
É o segundo desastre desse tipo, só que em Minas Gerais existem mais de 300 barragens inseguras, semelhantes a essa de Brumadinho informa o superintendente do Ibama, Júlio Cesar Dutra Grillo que defende que as mineradoras parem de usar barragens deste tipo indicando que existem técnicas mais eficientes, inclusive, já em teste pela Vale.
Parentes de possíveis vítimas vêm reclamando de dificuldade de acesso às informações. Foram cerca de 460 pessoas procurando a polícia em busca de parentes desaparecidos. Claro que entre essas pessoas que procuram há pessoas procurando pelas mesmas. O fato é que há dificuldades de fazer a identificação dos corpos; primeiro se faz o reconhecimento primário pelos familiares, depois através de impressões digitais e posteriormente quando preciso, através da arcada dentária e, por fim através do DNA.
Um inquérito já foi aberto na própria sexta-feira (25) para investigar responsabilidades pelo desastre ambiental arregimentando provas técnicas, documentais e também provas testemunhais; aguardemos para ver no que vai dar.
Com o número de desaparecidos aumentando, o corpo de bombeiros informou que elencaram 14 áreas prioritárias de busca, entre eles locais onde estão soterradas uma locomotiva, uma pousada com ocupação elevada no dia, ônibus e refeitório da mineradora Vale onde a maioria dos funcionários estavam na hora do rompimento.
Esse é o quadro geral da situação no local que reaviva a memória dos brasileiros quanto às dúvidas sobre o quanto esse tipo de ocorrência pode ou não ser importante para quem usufrui da rentabilidade da empresa; seus acionistas na bolsa de valores; as empresas que utilizam as matérias extraídas dessa mineração; os governos que usufruem recursos provenientes da atividade mineradora.
O fato é que tanto aqui quanto foi em Mariana/MG os mais prejudicados são os familiares das pessoas que morreram; os familiares das pessoas que conseguiram se safar da morte, mas que tiveram perdas significativas em termos de propriedades imóveis e móveis; perda dos frutos de seus trabalhos enquanto agricultores; de trabalhadores da mineradora e do desastre ambiental previsível em função da ação humana. Perdas incalculáveis ao meio ambiente e as famílias citadas.
Não bastasse isso, colateralmente temos que conviver com iniciativas do governo federal que, desajeitadamente e aparentemente de forma demagógica recebeu uma brigada de militares israelenses para ajudar nas buscas que já estão sendo feitas por militares brasileiros, equipes de defesa civil e principalmente pelo corpo de bombeiros.
Mais grave ainda é a constatar que são efeitos diferentes para setores diferentes. Se para o mercado a queda das ações da Vale na bolsa teve reflexos imediatos, demonstrando como esse tal de mercado é um ente que ‘se dá bem’ em qualquer situação; para os trabalhadores, para o município, para o meio ambiente e principalmente para as famílias dos envolvidos a medida é outra, de prejuízo real e de difícil recuperação. Para se ter uma ideia de que são tempos sinistros estes que estamos vivendo, já insinua-se por parte a empresa oferecer uma indenização aos familiares dos mortos fixado em 50 salários-mínimos. Este é o valor de uma vida perdida para a Vale.
Nos dois desastres estava envolvida a Vale, que foi privatizada no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a preço de banana na bacia das almas, como melhor remédio para uma empresa que até então era estatal e vigorosamente produtiva. Ou seja, estar pesaroso com ao acontecido não nos anistia de manter uma reflexão crítica dessa ocorrência.
Para finalizar não custa avisar que mesmo à distância podemos ajudar a difícil recuperação do desastre em Brumadinho. A Caixa e o Banco do Brasil anunciaram a abertura de contas para receber doações. Se quiser contribuir a conta corrente já disponível é a do Banco do Brasil é em nome da prefeitura local: agência 1669-1, conta 200-3 (SOS Brumadinho), CNPJ 18.363.929.0001-40. A gestão de sua contribuição será compartilhada entre o banco, a prefeitura, o Ministério Público e a Justiça local. Tomara que eles façam o uso adequado do que chegar e apresente de tempos em tempo uma rigorosa prestação de contas.

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