São Mateus, o futuro é uma incógnita

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São Mateus é um importante distrito da cidade de São Paulo, cujo próximo censo demográfico se quiser ser realístico tem que indicar quase 1 milhão de habitantes. Dos censos mais recentes para agora a chegada de novos moradores tem sido constante e sempre em acensão. É uma das poucas regiões da cidade que ainda suporta alguma expansão dessa natureza.

Com tanta gente chegando até mesmo porque havia amplas áreas sem ocupação domiciliar aliada ao baixo valor relativo das terras, quando comparada com outras regiões ou aliada ao custo zero da terra, uma vez que alguns distritos de São Mateus ainda sofrem com a ocupação de terrenos públicos e privados, parcelas importantes do bairro se transformam em médias e grandes aglomerações de famílias em locais desestruturados e desassistidos.

Crescendo tanto em termos populacionais a coisa tem funcionado como um castelo eficiente e faz crescer coisas boas e desejáveis e coisas ruins e indesejáveis. Se traz algum alento e sobrevida a economia local com a expansão dos negócios e oportunidades, o fortalecimento do comércio e serviços e colateralmente da indústria, não tem tido, até agora, efeito semelhante nas ofertas de emprego. Se dá uma sobrevida a economia local, traz como contrapartida uma infinidade de problemas quando acentuam-se as exigências das pessoas quanto aos serviços de amparo social e de outros tantos serviços públicos tais como de educação, de saúde, de transporte público, de cultura, todos itens de grande demanda e altamente defasados quando comparado a padrões aceitáveis e que o estado, estamos carecas de saber, sempre fica deficitário e devedor.

Nessas condições a futuro imediato de São Mateus passa a ser uma incógnita de difícil previsão. Pode dar muito certo, como também pode dar bem errado. O que se espera é que a primeira alternativa aconteça, embora não se possa contar com elementos otimistas olhando a conjuntura mais recente e atual. É preciso deixar claro que São Mateus não é uma ilha isolada e refratária a influências e natureza até planetária.

De curso alcance deve-se pensar são Mateus no contexto da cidade que continua sendo uma cidade desordenada. Ela fisicamente não cresce não se expande, em contrapartida cresce a sua ocupação em quantidade e modos e usos desse espaço. Nesses termos se olharmos para o que acontece no entorno vamos ver que o que cresce na cidade são os problemas, o uso irregular e cada vez mais predatório dos recursos cada vez mais escassos. Aqui vale contextualizar esse artigo sendo escrito em fevereiro de 2015 no pico de uma grande crise hídrica que vem se arrastando desde o ano de 2013 por conta de vários atores culpados; a sociedade e governo.

Ainda no curto alcance se avizinha uma estagnação e até um possível recuou na economia que surfou nas últimas décadas em uma fórmula monetária e especulativa com os altos juros que se paga no país a chegada de recursos com a subida vertiginosa da dívida pública. A fórmula que dá uma espécie de lustro em móvel velho e comprometido é bem semelhante a um centro de tratamento intensivo onde as chances de recuperação ficam cada vez mais distante. Esse quadro infeliz vai ter efeitos sobre São Mateus. Se mais ou menos severa torçamos para que fique na média da cidade; nem melhor nem pior.

Objetivamente essa situação pode se refletir em menos emprego e mais carestia; em menor atividade e desaquecimento da economia local e não há como escapar desses efeitos. É preciso entretanto, compreender que não podendo se esconder São Mateus e seus personagens tentem fazer o melhor possível.

De médio alcance é possível vislumbrar uma São Mateus menos viscosa, menos verde, mais afinada com o resto da cidade. É quase certo que o que ainda resta de sua vegetação nativa e recursos que tem boa contribuição à saúde ambiental da cidade também se deteriorem. Pode parecer o caminho do desenvolvimento, mas nunca foi e não será. Como a natureza vem mostrando os custos da sua não preservação são cada vez mais sérios e danosos; voltemos a falta de água.

Uma pena. Com espaço e território cuja paisagem em alguns momentos nos remetem a meados do século passado, São Mateus vai perdendo suas características mista, com áreas de cidade e guetos interioranos, o seu uso e ocupação continuará sendo de forma predatória.

Se essa direção agora nos parece irreversível o esforço de todos precisaria ser no sentido de fazê-lo da forma mas civilizada e menos depreciativa possível. Nenhum cidadão ou ator desse palco chamado São Mateus poderá se eximir dessas responsabilidades.

Agora o futuro de longo alcance mesmo, nada a declarar ou especular. O que sei é que o que se faz agora e se fará amanhã refletira nesse futuro distante.

J. de Mendonça Neto, redator da GSM é jornalista.

Foto: Bairro São Mateus, vista panorâmica em 1954 (arquivo doado à Maria do Resguardo).

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