Nesses tempos em que a Petrobras é a pauta vale lembrar que a sua preservação é questão de soberania nacional
O fato é que o Brasil ficou mais atraente ao capital internacional. Se até 2006 era a fartura de recursos naturais, muito território e um mercado consumidor em expansão mesmo que lenta, mas promissor, agregou-se um pouco mais tarde como valor um volume expressivo de petróleo. A expectativa é que apesar da flutuação o preço do barril fique próximo a US$80, um valor que se entende como competitivo.
O fato, também, é que o Brasil cedeu nos anos 90 mais um pouco de sua pouca soberania. Um exemplo foi a adoção de uma lei frouxa e complacente de remessa de lucros que permitia o livre trânsito de capitais; a falta de proteção à empresa genuinamente nacional e com uma politica de superávit primário e câmbio que ainda agora conforta os rentistas em detrimento da indústria nacional que se desnacionalizava. Foram oferecidos a subsidiárias estrangeiras benefícios fiscais e até créditos numa política, também sustentada, por uma mídia hegemônica com fortes vínculos e até pertencimentos a este capital cuidando de alienar a sociedade. Se pode afirmar que a sociedade teve uma sangria mais substanciosa de suas riquezas. Era um país, então, subalterno, com apenas 14 bilhões de barris de petróleo que poderiam escassear nos 17 anos seguintes mantidos o padrão de consumo atual.
Em 2006, o cenário muda com a descoberta do Pré-Sal, que pode conter de 100 a 300 bilhões de barris de petróleo. 60 bilhões desse volume já foram revelados até agora. Iniciou-se também certa proteção a indústria nacional, por exemplo, com a proibição de compras do exterior de plataformas de petróleo. Em outra ponta nevrálgica chegaram novos equipamentos de defesa para as Forças Armadas.
E se o Brasil participava apenas do Mercosul, melhorou a sua interação soberana com outros fóruns como a Unasul, a Celac e os Brics ação que contraria os interesses geopolíticos norte americanos. Na política externa o Brasil se aproximou dos países em desenvolvimento e de outras regiões, mas de forma a não melindrar ainda mais os EUA, a Europa e o Japão.
Ainda nesse período, corretamente, abandona-se o modelo das concessões; aquele que permitia quase todo o lucro do petróleo ir para o exterior e adota-se o modelo de contrato de partilha. Nessa modalidade uma parte adicional do lucro, acima do royalty, vai para o fundo social e parte do petróleo vai para o Estado brasileiro. Outra sábia decisão foi escolher como operadora única do Pré-Sal a Petrobras, o que, por tabela, melhora a compra de bens e serviços no país. Outra ousadia foi à escolha de empresas petrolíferas chinesas no leilão do campo de Libra rompendo o ciclo dos interesses das petrolíferas estrangeiras ocidentais.
Com tanta contrariedade o governo americano vivia paparicando a presidente Dilma ao mesmo tempo em que espionava sua movimentação, conforme denunciado tempos atrás. A ideia era seduzir o governo brasileiro e recompor as regalias que até então desfrutavam. Ponto para a soberania brasileira.
Dado ao insucesso da sedução esses setores estrangeiros ocidentais, tentaram se aproveitar das eleições majoritárias do ano passado para ajudar a eleger um mandatário brasileiro mais subserviente para que este pudesse relaxar nas medidas de soberania. Possivelmente, entidades similares com e a própria CIA, utilizando empresas estrangeiras aqui estabelecidas, devem tê-las incentivado a contribuir com recursos para eleger os seus candidatos em 2014, formando uma bancada no Congresso Nacional que é um misto de entreguistas com alienados corruptos, porém, muito fiéis aos doadores de campanha.
Em mais um round
A partir da descoberta dos ladrões da Petrobras, um novo tempo e, diria, turno de campanha presidencial toma corpo, principalmente na mídia ao gosto dos interesses estrangeiros ocidentais. Essa mídia, auxiliada por políticos subservientes e comprometidos com os financiadores que também são representação desses interesses inconfessos, buscam cumprir a tarefa de confundir a população e leva-la a achar que a Petrobras rouba o dinheiro do povo e não, como é: ladrões ocupantes de cargos na empresa que a roubam. Nessa linha perigosa, de uma Petrobras fraca e até privatizada, vai ficar muito fácil levar o petróleo do Pré-Sal.
Como se vê independente do resultado que advir a coisa mudou de figura. O Brasil não é mais aquele de 14 bilhões de barris de petróleo. Caminha para uma reserva mínima de 200 bilhões de barris e isso levará o país a ser uma das três maiores reservas do mundo e com isso não se brinca. Essa situação exigirá muitas outras medidas de soberania, caso a sociedade brasileira queira usufruir dessa sua riqueza. Essa nova situação é tão real que a visão do capital internacional é que o Brasil não é, ou ainda não, um país antagônico, como China, Rússia, Irá e Venezuela, mas poderá vir a ser, uma vez que vem tomando medidas e estabelecendo regras mais duras com relação a esse capital. Por isso todo esforço desse capital internacional para cooptar os poderes e estabelecer o controle do que acha e pensa a população através da mídia desse mesmo capital.
Mas há males que vem para bem. Dialeticamente a população não está dando tanto crédito assim a essa mídia e não deve apoiar com vigor e intensidade um possível plano de impeachment da presidente. O fato é que a batalha vai continuar e novas tramas e conspirações serão reveladas no sentido de vender a ideia que o defeito esta na Petrobras e não nos ladrões que dela usufruem. Entendo que o povo não precisa necessariamente apoiar governantes que permitam a perda do Pré-Sal.
Quanto ao eventual impedimento da presidente, que se apurem todas as lambanças, que se julgue corretamente e que as ações que virão tenham apoio na legalidade e não na quebra do regime democrático.
(JMN)
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