ONU chama atenção para desperdício de alimentos no mundo e pede mudanças
Diretor da agência da ONU para meio ambiente convoca países a aderirem à economia verde e afirma que modo de vida atual não se sustenta por muito tempo
Aproveitando as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, chamou atenção para uma questão pouco tratada quando se pensa em preservação ambiental: o desperdício de alimentos e o impacto disso no mundo. “Um terço de todos os alimentos produzidos no mundo a cada ano, ou cerca de 300 milhões de toneladas, é jogado no lixo. A comida que jogamos fora ainda serve para o consumo humano e poderia alimentar mais de 800 milhões de pessoas no mundo”, explicou, em artigo no site da ONU.
Este, no entanto, não é todo o problema. O diretor ressaltou que a produção de alimentos em escala global é uma das principais responsáveis pelo desmatamento e o esgotamento da água. Nada menos que 80% do desmatamento é motivado pela expansão de áreas agricultáveis e pasto para animais de corte. A perda de espécies animais e de biodiversidade acaba sendo a “consequência natural”, deste processo descontrolado.
O modelo de agricultura e pecuária extensivos também é responsável por mais de 70% do consumo de água doce. “Um hambúrguer de carne no seu prato no almoço poderia exigir uma incrível quantidade de 2.400 litros de água nessa produção. Você gostaria de batatas fritas com quê? Adicione mais 100 litros, isso sem mencionar o impacto dos pesticidas e das embalagens não degradáveis. Bon appétit”, ironizou Steiner.
Sem modificar essa “fórmula”, o diretor avaliou que será difícil manter o nosso estilo de vida por muito tempo. E qualquer promessa ou projeto de tirar da pobreza absoluta cerca de um bilhão de pessoas que ainda carece de condições mínimas para viver será uma ilusão.
Até 2050, a população mundial deve chegar a 9 bilhões de pessoas. Todas precisando se alimentar. Isso vai ampliar a pressão sobre os recursos naturais. Somado a um provável aumento da poluição, a consequência para a humanidade pode ser catastrófica. “Secas recordes, inundações, poluição sufocante do ar e espécies ameaçadas de extinção tornaram-se notícias diárias”, lembrou Steiner, referindo aos últimos dez anos.
A saída defendida por ele é aumentar radicalmente o que os economistas chamam de “produtividade”: produzir mais gastando menos. Modificar os padrões de produção e consumo, revertendo a lógica de extração, produção, consumo e desperdício para uma economia verde. “Que imite os processos naturais onde não existe o conceito de ‘sobra’, apenas comida para outro organismo ou processo”, explicou Steiner.
Segundo o diretor da Pnuma, o consumo global já é 1,5 vez maior do que a capacidade do planeta de suportar tanto a extração de matérias-primas quanto a produção de resíduos. Mesmo assim, Steiner acredita que a mudança está a caminho. “Embora não tão rápido como necessário”, ressaltou.
De acordo com a ONU, 65 países já estão desenvolvendo ações de economia verde e estratégias relacionadas. Muitas outras aderiram à Parceria para a Ação pela Economia Verde (Page), articulação entre várias agências da ONU, para incentivar investimentos e desenvolvimento de políticas para tecnologias limpas, infraestrutura eficiente de recursos, ecossistemas em bom funcionamento, trabalhos verdes de qualidade e boa governança.
O setor de energias renováveis é o melhor exemplo, segundo Steiner. Em 2014, este setor foi responsável por quase metade de toda a capacidade de geração elétrica, excluindo as grandes centrais hidroelétricas. “A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que incentivar a eficiência energética poderia, não só proporcionar uma redução de 10% dessa demanda até 2030, mas também economizar US$ 560 bilhões”, afirmou.
“No geral, aproveitar tecnologias existentes e políticas apropriadas para aumentar a produtividade dos recursos poderia liberar US$ 3,7 trilhões por ano, em todo o mundo, que hoje são desperdiçados de outro modo. Estes fundos atualmente desperdiçados poderiam ser investidos em saúde, educação e desenvolvimento”, concluiu Steiner.
Por Rodrigo Gomes, da RBA
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