Mulheres vítimas de violência devem procurar serviços de saúde e delegacias durante a quarentena, dizem especialistas
Delegacias de Defesa da Mulher, a Casa da Mulher Brasileira e Centros de Acolhimento continuarão funcionando durante o período de isolamento social.
O governo de São Paulo adotou nas últimas semanas uma série de estratégias para evitar a propagação do coronavírus. Uma das principais recomendações foi para que as pessoas cumpram a quarentena e fiquem em suas casas. Segundo especialistas ouvidos pelo G1, a ação é necessária, mas traz fatores de risco que podem ocasionar o aumento dos casos de violência contra a mulher. Eles pedem para que as vítimas não deixem de buscar atendimento no serviço de saúde durante o período.
“Muitas vezes a porta de entrada da violência contra as mulheres é o serviço de saúde, que está sobrecarregado, então, existe também um risco das mulheres não conseguirem ou acharem que não devem acessar o serviço de saúde. Isso para a violência, mas também para a saúde sexual reprodutiva, então, sim, a gente vai ter que deixar bem claro e os serviços têm que estar abertos, tem que estar funcionando”, disse a gerente de Projetos da ONU Mulheres para Prevenção e Eliminação da Violência contra as Mulheres, Maria Carolina Ferracini.
Já o hospital Pérola Byington, no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo, referência no atendimento às mulheres vítimas de violência sexual no Brasil, suspendeu a realização dos procedimentos de interrupção da gravidez nos casos previstos em lei. As consultadas de avaliação e os procedimentos foram todos cancelados.
“Os fatores de risco de violência doméstica neste isolamento são muitos, mas alguns são bem claros. É a questão de você ter muito mais tempo dentro de casa, uma convivência forçada, o stress econômico que a pandemia e o isolamento tem causado e o próprio medo do vírus”, completa Ferracini.
A diretora do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, reforça que a medida é necessária, mas concorda que alguns fatores podem ser determinantes para o aumento da violência contra mulheres.
“Estamos diante de um problema muito sério. Esse ambiente de isolamento é importante, é necessário, mas traz riscos reais as mulheres em relação à violência”, disse.
“Tem uma coisa muito complexa para a gente pensar que é a questão da restrição financeira nesse momento, isso traz obstáculos grandes para a mulher conseguir sair de uma situação de violência, em especial, as mulheres que tem filho, as mulheres pensam dez vezes em sair de uma relação sem ter para onde ir, ou ficar em segurança com um parente, ou amigo, pensam dez vezes na proteção das crianças. Então, é preciso que essa mulher chame, peça ajuda, peça ajuda a um vizinho, a uma irmã, grite, ligue, porque essa é uma forma também de intimidar o agressor”, completa Jacira.
A gerente de Projetos da ONU Mulheres para Prevenção e Eliminação da Violência contra as Mulheres, Maria Carolina Ferracini, destaca também que o aumento de casos já pode ser percebido em outros países que enfrentaram o isolamento meses antes. No Rio de Janeiro, o número de casos de violência doméstica cresceu 50% durante a quarentena.
“A gente teve um dado hoje do Rio de Janeiro já indicando um aumento nos relatos para a justiça e nós tivemos notícias da federação do Reino Unido que fez uma pesquisa sobre os países com algumas semanas a mais que nós de isolamento. Na China, triplicou os relatos para a polícia de violência doméstica, de violência de gênero e tem outros riscos”, completa Ferracini.
A promotora de Justiça, Fabíola Sucasas, autora e coordenadora do projeto Prevenção da Violência Doméstica coma Estratégia de Saúde da Família (PVDESF), defende que a vítima deve construir um plano de segurança e estar amparada por uma rede de emergência.
“Prevenir é a ordem, não tenho dúvida. É preciso estar atenta aos sinais desse complexo de acirramentos e construir um plano de segurança. A mulher deve se preparar, planejar, buscar criar uma rede de apoio para emergências, sabendo lidar nas situações anteriores aos ataques, enquanto eles ocorrem e após os episódios. A construção de planos de segurança é fundamental para traçar uma válvula de escape, mas deve ser feito de forma coordenada, especializada e amparada pelos serviços essenciais que devem funcionar e atender as mulheres mesmo neste período”, disse Sucasas.
De acordo com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), os quatro Centros de Referência e os cinco de Cidadania da Mulher permanecem abertos das 10h às 16h. Assim como a Casa da Mulher Brasileira que continua funcionando 24 horas por dia.
Segundo a pasta, o Centro de Acolhida Especial para Mulheres em Situação de Violência, com 100 vagas, também segue funcionando. Por ser serviço sigiloso e de garantia de segurança da mulher, os endereços não são publicados. Quem precisar de atendimento, pode procurar qualquer equipamento da Prefeitura de São Paulo que atenda mulheres vítimas de violência.
“Neste momento a gente quer mostrar que a Prefeitura de São Paulo continua perto, continua aberto com seus equipamentos de acolhimento na cidade de São Paulo. A gente lançou uma campanha #seguimosperto para informar as mulheres que a gente continua prestando atenção a esse tema”, disse a secretária municipal de Direitos Humanos e cidadania, Ana Cláudia Carletto.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, as Delegacias de Defesa da Mulher também permanecem abertas durante a quarentena, pois são consideradas serviços essenciais.
Por Beatriz Borges
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