Grafiteiro espalha geladeiras cheias de livros em bairro da Zona Leste de SP

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O artista plástico João Belmonte, o Todyone, grafitou as geladeiras velhas, encheu elas de livro e espalhou pela região. São seis “gelotecas” em Guaianases.
O grafiteiro conta que teve a ideia depois que foi ajudar um amigo.
“Tinha um colega nosso que tinha sido despejado e não tinha como levar a geladeira que era muito pesada e estava num local que era de difícil acesso”, explica. “Ele pediu a nossa ajuda para tirar a geladeira de lá, né. E aí, então, a gente pegou essa geladeira junto com outros amigos, colocamos numa perua e eu liguei para o Marcos Paulo, da barbearia e falei, Marcos a gente precisa desse espaço e já peguei, já pintei e começou assim.”
A primeira “geloteca” foi montada em frente a uma barbearia. O barbeiro, Marcos Paulo Silva, aprovou a ideia. “Para muitos é lixo, um móvel quebrado que não tem utilidade nenhuma, e nós estamos contribuindo para ajudar a levar conhecimento para as pessoas”, diz.
Mas infelizmente, a violência no bairro está longe de acabar. As próprias geladeiras já foram roubadas três vezes. Por isso que as doações são fundamentais para manter o projeto e fazer com que Todyone atinja o objetivo dele o mais rápido.
“Quando a gente fez a primeira a ideia era que o bairro ficasse conhecido como o bairro de mais incentivo à leitura do país, algo assim. Então a gente quer colocar em Guaianases inteiro e deixar o bairro conhecido pela leitura independente, assim”, diz Todyone.
O dono de uma banca que vende livros, revistas e CDs perto da estação Guaianases da CPTM viu todo o acervo queimar num incêndio, logo depois de um show ao lado da banca. Ademar Rodrigues Chapin contou com a ajuda da filha, que agitou as redes sociais, da comunidade e conseguiu reerguer a bancam que ganhou um novo nome: Resistência Cultural.

O rapper Prodígio, um dos organizadores do show no dia do incêndio, também contribuiu para a reconstrução da banca.
“Me prontifiquei a ajudar ele a reconstruir o sebo, a reformar, porque eu também sou grafiteiro há 22 anos”, disse Prodígio. “Dá pra fazer dois sebos com o que a gente conseguiu, São Paulo inteira se mobilizou.”
A cultura também mudou a vida de José dos Santos, o Coquinho, dono de outra banca em Guaianases há mais de 20 anos. Quando começou a vender livros, escrevia pouco. Ele parou de estudar quando ainda era criança. Em meio a tantas histórias, resolveu escrever mais um capítulo da dele mesmo.
“Voltei a estudar, terminei o ensino fundamental e ensino médio”, diz Coquinho. “Os livros são fundamentais. Com o saber você se aprofunda cada vez mais e você fica mais culto. Por eu ter uma vida difícil eu era muito ignorante e eu fiquei mais sensível e aprendi a ser mais homem com o livro.”
Por Filipe Gonçalves

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