Quem falou grosso e forte, dias desses, foi o procurador-geral da República, Rodrigo Janot quando participava da Conferência Internacional de Combate à Corrupção. Ah!! O combate à corrupção. Palavra chave cheio de encantamento e muita decepção. O procurador-geral discursou duramente contras os desmandos no estado brasileiro e, menos generalista, cobrou publicamente a demissão de toda a cúpula da Petrobras. Cobrou ainda reformulações para que se aumente a transparência e a visibilidade do que se faz nas empresas públicas. Ainda com cara de mau fechou o pronunciamento prometendo uma resposta firme na Justiça brasileira e fora dela àqueles que assaltaram a empresa.
Mas nem tudo estava dentro da ordem. Tem quem considera que Rodrigo Janot derrapou quando atribuiu grande parte dos atuais desmandos nas empresas públicas brasileiras a uma eventual herança do regime militar. Claro que é certo que a falta de transparência, a falta de prestação de contas, o argumento da necessidade de sigilo durante o regime militar que, por essas razões, não dava satisfação a ninguém a não ser aos seus próprios membros de forma hierarquizada deixou mazelas e péssimos costumes, mas, dai, a atribuir que essa prática e essa situação perdurassem e se justificassem ainda nos dias de hoje vai um equivoco do procurador.
Não, não tem como achar que é a mesma coisa o que se fazia durante a ditadura militar e a nomeação de certas figuras dentro da direção da empresa por exigências de partidos que estavam na base de apoio do governo eleito.
As indicações de Paulo Roberto Costa, pelo PP ou Renato Duque, pelo PT ou, ainda, Nestor Cerveró, pela cota do PMDB; quase todos na condição de delatores premiados e que junto a outros acusados estão fazendo revelações preciosas no sentido de restabelecer à verdade dos fatos, não podem ser justificadas ou explicadas pelos maus costumes da ditadura militar. Não, eles eram ou são a expressão das premiações por apoios políticos e, principalmente, os elementos de ligação entre os recursos que eram gerados nos negócios entre a empresa e a iniciativa privada e que em formas de comissões brindaram partidos políticos e caciques destes e demais envolvidos; até o mensageiro.
O que se vê revelado na roubalheira na Petrobras, com sinais claros de que a situação ser repete nas demais estatais brasileiras é fruto, também, de falta de caráter e da forma depauperada de se vivenciar a democracia.
Essa democracia, ao rejeitar, entre outras mecanismos de maior controle e mais lá trás outra eventual forma de governo como era o caso da adoção do parlamentarismo se sustenta, agora, num viciante e deprimente presidencialismo de coalizão, qual seja: faz o loteamento da máquina pública, se distribui pedaços de distintos tamanhos do estado brasileiro para grupos e partidos políticos para garantir sustentação ao governo central.
Feito um balcão de negócios, se ganha um apoio aqui e acolá e se paga com nacos do estado. Dai a gente ver coadjuvantes tão estranhos entre si na mesma cena e do mesmo lado.
Outra ameaça, entende este escriba assim, tal a esquizofrenia que a intenção revela é a possível nomeação de Anthony Garotinho, politico do PR e ex-governador do Rio de Janeiro e um dos derrotados na eleição de 2014 para uma das vice-presidências do Banco do Brasil. Vamos tentar harmonizar o que isso eventualmente representa no imaginário; Dilma Roussef (PT), mas que também já foi de outro partido trabalhista e um dos populistas mais notórios do Rio do Janeiro. Perceba-se que não é fácil. Além disso o tal Garotinho já tem condenação criminal por formação de quadrilha, entre outras dificuldades com a Justiça. Perguntemo-nos: o que um cidadão condenado tem como predicado para o cargo de um banco público? Mesmo sabendo que banco também não é necessariamente reduto de gente sempre honesta. Resposta: garantir, por tabela e por fora do ofício, alguns votos para a presidente Dilma Roussef no Congresso.
Hoje do ponto de vista da moralidade e da ética há sinais de que não é mais suportável que o estado brasileiro, com seus polpudos recursos, continuem sendo objeto de escambo e trocas entre as composições políticas. O estado, preferencialmente ocupar-se da segurança, educação e saúde e, pontualmente, da economia esta ao gosto de muita gente e, ouso achar, até mesmo para um sem número de socialistas que desejariam, agora, pelo menos, que o estado fosse pelo menos mais decente, menos ‘coisa nossa’. Um balcão de negócios entre os governantes e as elites empresariais que lhes presta serviço ou vice-versa.
E em se tratando de empresas estatais que pela sua própria natureza e função também demanda gestões profissionalizadas isso nunca será possível enquanto elas servirem de moeda de troca. Isso foi um mal durante a ditadura e continua sendo na nossa distorcida democracia brasileira.
A questão é que neste exato momento, em algum canto de um executivo municipal, estadual e mesmo no enorme aparelho estatal federal brasileiro tem gente promovendo favores espúrios, chantagens, abusos, mal feitos com vistas a produzir uma gordurinha financeira aqui e ali que vá parar na sua conta seja dentro do território ou fora dele.
A certeza de que nunca isso será estancado por completo, por outro lado, não é motivo para esmorecer e aceitar como inexorável e imutável. Tomara que em 2015, alguns mais estejam na cadeia e que preferencialmente o dinheiro roubado volte as origens dos cofres públicos.
Dai para desejar um feliz 2015 é apenas uma questão de vamos em frente que a luta continua. (JMN)
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