Falar de Meio Ambiente nos dias de hoje tornou-se algo tão corriqueiro, mas tão corriqueiro, que começo a me perguntar se a coisa não está saindo só da “boca prá fora”, como dizíamos antigamente quando alguém falava uma coisa e fazia o contrário.
As crianças têm contato com vários projetos ambientais em todas as escolas, logo, os professores também desenvolvem estes projetos e repercutem a importância de discutir os problemas ambientais para toda a escola e, como cidadãos, para suas famílias e vizinhança; comunidades, igrejas, associações, empresas, todos têm algum projeto, ação ou atividade, permanente ou não, mas que aborda aspectos da importância do respeito ao Meio Ambiente.
Todos nós, os mais de 10 milhões de habitantes de São Paulo, sofremos com problemas ambientais decorrentes da forma como a cidade está organizada: enchentes, falta d’água, poluição do ar e, também, todos nós geramos quase um quilo e meio de resíduos domésticos por dia e desejamos que eles desapareçam da porta de nossas casas como num passe de mágica, sem nos preocuparmos minimamente com como devemos contribuir para que essa “lixarada” não se torne um problema para toda a cidade e, logicamente, para cada um de nós!
Trabalho com o tema há anos e ouço da boca de todo mundo que “é muito preocupado com o Meio Ambiente”. Também é muito frequente, comum mesmo, comentários do tipo “no Japão é diferente” ou, “na Europa eles reciclam muito”, ou ainda, “nos Estados Unidos as coisas funcionam”. E, por outro lado, como explicamos por que aqui existem incontáveis pontos de descarte irregular de entulho, inclusive em frente a escolas e postos de saúde? Ou por que, havendo coleta seletiva regular em quase toda a cidade, a adesão da população é tão baixa e a qualidade de separação de recicláveis deplorável (encontramos restos de comida e até animais mortos nos resíduos destinados às cooperativas)? Ou, ainda, por que a população coloca os resíduos comuns em horários em que a coleta não passará e, pior, joga tudo fora dos coletores, na rua, nos córregos, contribuindo para aquelas enchentes gravíssimas que afetam a vida de todos? Nossa sábia resposta é sempre “o povo é assim mesmo”.
Será que essa explicação satisfaz? Na Copa do Mundo de futebol o Brasil ficou encantando com os japoneses recolhendo seu próprio lixo após os jogos. Será que o povo japonês “é assim mesmo”? Ou será que ele aprendeu? Uma resposta que certamente ouvirei a esta pergunta é “o Brasil não tem jeito”. Também discordo. Quem já andou de metrô? Ou foi a algum SESC? Tem lixo jogado de qualquer jeito lá? Precisa ser valente para largar uma latinha de refrigerante ou uma garrafinha de água no chão. O cara vai passar vergonha. Por quê? Pensem.. Pensem… Pensem…
Se vocês responderam que é porque o ambiente é limpo. Acertaram. Ambientes cuidados adequadamente geram não só bem estar às pessoas que os frequentam, mas inibem más atitudes. E todos acabam colaborando para que o ambiente seja sempre limpo. A isso chamamos círculo virtuoso: uma coisa boa trás outras coisas boas. Só que todo mundo tem que contribuir!!!!
A cidade de São Paulo gasta bilhões de reais com a limpeza urbana. É um exército de gente varrendo, coletando os resíduos, limpando os córregos e bueiros. É como cuidar de nossa casa. Dá trabalho, mas quando está limpa, todo mundo fica sem graça de entrar com o pé sujo. Então limpa o pé, tira o sapato e a casa continua limpa! Fica mais fácil fazer a próxima limpeza.
Mas nós não aprendemos a tratar nossa cidade como nossa casa! Somos uma sociedade agressiva com a nossa cidade. Achamos que não é nossa, que “alguém” tem que cuidar dela e que podemos fazer fora de casa o que não fazemos em casa. Pichar os muros, deixar o cocô do cachorro na calçada, jogar o lixo de qualquer jeito, a qualquer hora. Depois brigamos com a prefeitura que tem que limpar. É meio maluco, porque a prefeitura, quem paga somos nós. O dinheiro enorme que está indo para cuidar daquilo que nós estragamos, poderia estar indo para cuidar melhor daquilo de que precisamos: escolas, postos de saúde, transporte público, parques bonitos para nosso lazer. Agimos como o bêbado, que fica se perguntando depois de ter tomado mil litros de qualquer coisa alcóolica: “nossa, por que será que estou com essa dor de cabeça?” Perdemos a noção entre a causa e o efeito. Isso sim “é assim mesmo”: sempre que não percebemos a responsabilidade que temos sobre nossos atos, vamos acabar sofrendo, ou fazendo alguém sofrer.
Ah, também costumamos dizer que o “povo brasileiro é muito alegre”. Gostamos de festa. Escrevo essa matéria antes do carnaval e não quero nem pensar nas quantidades de lixo que esse povo tão alegre vai deixar nas ruas enquanto estiver brincando, sem pensar em suas responsabilidades de cidadão, garantindo assim, no dia seguinte, além da dor de cabeça certeira, a tristeza dele mesmo, porque chove, a água leva tudo e alaga tudo e todos os alegres acham que o problema não é deles. Deve ser culpa de Deus, porque “choveu no meu lixo, oras bolas”, ou de São Pedro: “esse cara não deveria mandar chuva depois do carnaval”. Mas vai chover e o bicho vai pegar!
Então vamos lá com algumas dicas importantes para a gente aprender e repassar para todos em casa, na escola, no trabalho. E para NÃO ESQUECER MAIS:
1. Chão não é lixeira – se você tem uma latinha, garrafa, embalagem, chicletes… qualquer coisa que queira dispensar: COLOQUE NUMA LIXEIRA! Se não tiver lixeira por perto, guarde no bolso, na bolsa, na pasta… MAS NUNCA JOGUE NO CHÃO.
2. Saco de lixo não é peixe – se ele cair no córrego, não vai sair nadando. Vai entupir, assorear e contribuir para alagar a sua própria casa. NUNCA JOGUE NENHUM TIPO DE RESÍDUO OU ENTULHO NAS RUAS E NOS CÓRREGOS. Existem Ecopontos para móveis e entulho – veja no site da prefeitura. (prefeitura.sp.gov.br)
3. Fadinha do lixo não existe – os resíduos da sua casa não desaparecem por mágica! Toda a cidade é coberta por coleta domiciliar. Onde não se pode chegar com os caminhões, há contêineres nos acessos, mas é importante lembrar:
a. DEIXE OS RESÍDUOS SOMENTE NO DIA E PRÓXIMO AO HORÁRIO DE COLETA. Assim, se chover a água não vai levar, animais não vão remexer e sujar toda a rua e, portanto, o seu bairro ficará mais agradável. VALORIZA O IMÓVEL.
b. Quando não houver coleta na sua porta, verifique os dias em que o caminhão vem pegar os resíduos dos contêineres que estarão à entrada de seu bairro: SOMENTE LEVE OS RESÍDUOS PARA O CONTÊINER NO DIA CERTO E PRÓXIMO DA HORA DA COLETA.
4. Contêiner de resíduos não é fogueira de festa de São João – NUNCA COLOQUE ENTULHO E FOGO NOS CONTÊINERES DE RESÍDUOS DOMÉSTICOS. Isso causa muitos problemas aos vizinhos e, mesmo, risco de vida. Atrapalha e atrasa a coleta, prejudica muito os coletores, que são Seres Humanos que estão trabalhando para todos nós. Tenha responsabilidade e respeito pelos outros.
5. Reciclagem não é frescura – mais da metade dos resíduos que vão para aterros poderiam ser reciclados, aumentando sua vida útil e, muito importante, gerando emprego e renda para as muitas cooperativas de São Paulo. SEPARE CORRETAMENTE OS RECICLÁVEIS – DEVEM ESTAR LIMPOS. Não jogue papel higiênico, fraudas, restos de comida. SEPARE LATAS, PLÁSTICO, PAPEL E PAPELÃO LIMPOS. Verifique o dia da coleta seletiva. Veja o site do RECICLA SAMPA. Lá tem tudo sobre coleta seletiva.
Vamos lá, nós humanos, sejamos japoneses, europeus, americanos ou brasileiros temos o direito a uma cidade limpa e bem cuidada, mas temos também o dever de contribuir para isso!
Bom carnaval para todos e, lembrem-se, levem um saquinho de lixo pendurado na fantasia.. Vão rolar muitos selfies, podem crer!
Por Zulmara Salvador
Consultora Ambiental
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