Autônomos ou empregados? Motoboys dividem opiniões sobre trabalho com aplicativos de entrega em SP
Categoria se vê em limbo jurídico sobre prestação do serviço e cobra que poder público intervenha pela regularização dos aplicativos conforme as leis trabalhistas.
Os motoboys que trabalham com aplicativos de entrega se veem em um limbo jurídico e se dividem sobre o tipo de regulamentação que as plataformas devem seguir para garantir uma boa relação de trabalho, se alinhada à CLT ou se regularizada como trabalho autônomo.
Todos os entregadores entrevistados pelo G1 elogiaram as plataformas, especialmente pela geração de renda que promoveram, pela liberdade em escolher quando trabalham e por dinamizarem o serviço, que é sempre oferecido nas proximidades de onde estão.
No entanto, a indefinição do seu papel nessa relação de trabalho começou a incomodar quando perceberam que não tinham um mínimo suporte para imprevistos. Em caso de acidente, por exemplo, eles não recebem auxílio pelo seguro do INSS, já que não são autônomos, nem empregados.
“Se eu sofro um acidente, eu tenho que achar a opção desse relato na plataforma e recebo como resposta: ‘lamentamos o ocorrido. Já vamos retirar o pedido’. Pronto e acabou’. Eu acho que eles deveriam legalizar o motoqueiro ou como empreendedor ou como CLT porque a gente sequer sabe quem são eles ou a quem recorrer”, opina Carlos Roberto, motoboy de carteira assinada, mas que trabalha com os aplicativos nas horas livres para uma renda extra.
Sem os gastos com a segurança do entregador e com a manutenção da moto, os aplicativos têm ganhando vantagem no mercado sobre os empresários tradicionais do motofrete, que também cobram a legalização das empresas na relação com o motoboy.
“As empresas de aplicativo não cumprem toda a estrutura de trabalho prevista na legislação – o piso salarial, o seguro de vida, a aposentadoria, o auxílio em caso de acidente, o 13º, as férias, a cesta básica, equipamentos de segurança, vale refeição, refeitório, o adicional de periculosidade…. Então praticam um preço 50% menor do que as empresas formais”, esclarece Herika Mascarenhas, diretora do Sindicato das Empresas de Distribuição de Entregas Rápidas do Estado de São Paulo (Sedersp).
CLT
Uma parcela dos motoboys enxerga vínculo empregatício com os aplicativos devido ao seu poder diretivo: a decisão unilateral no valor do serviço, o monitoramento dos motoboys, já que podem ser punidos, e o serviço de agendamento e promoções, que demanda entrega em local e horário determinado.
“Quando você tem muito profissional ocioso e pouco pedido, eles abaixam o preço, mas em dias de chuva, que tem pouco profissional e alta demanda, eles não sobem para gente”, relata o motoboy Antônio Dvorzak Jr. “Além disso, com ofertas e promoções, eles acabam controlando o horário e a região em que desejam o serviço”, continuou.
O motoboy Alan Rocha Mota conta que gostava de trabalhar muitas horas, mas que ao ser repentinamente bloqueado formou um grupo de trabalho com outros colegas, todos autônomos, que também cansaram do serviço com aplicativos.
“No começo eram às mil maravilhas e eu sempre gostei de trabalhar bem, mas eles não valorizam o motoboy, então tomamos a decisão de continuar autônomos. Nós mesmos cobramos nossos valores, corremos atrás da nossa clientela e, como somos uma equipe, um ajuda o outro em caso de acidente ou problema com a moto”, disse. “No fim das contas, trabalhamos menos e ganhamos mais”, continuou.
Para o Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP) e para o Ministério do Trabalho também há vínculo empregatício, e ambos os órgãos cobram o cumprimento das leis trabalhistas vigentes pelas empresas.
Autônomo
Para a Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (Amabr), não há vínculo de emprego entre motoboys e as empresas, e o serviço é de autônomo, mas eles também cobram o cumprimento da legislação para a categoria.
“Nós não acreditamos no vínculo e a reforma trabalhista regulamentou a terceirização. Nossa briga é para que o poder público penalize as empresas que trabalham com motofretistas não regulamentados, com placas vermelhas, conforme a lei 14.491, que orienta o motofrete”, afirmou Marcelo Marques da Costa, advogado da Amabr.
“Isso pode ajudar na segurança dos profissionais porque o motoboy regulamentado deve atender a uma série de exigências, como moto nova, vistoria em dia, atestado de antecedentes, curso prático e teórico, seguro de vida, protetor de perna e colete reflexivo, Hoje, basta ter habilitado e ter uma moto que os aplicativos aceitam”, continuou.
Sem burocracia
A Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), que reúne as empresas de aplicativo, se fundamenta no liberalismo econômico, com a mínima intervenção do Estado nos negócios, para argumentar a ausência de vínculo, defendendo que absorveu um grande contingente de desempregados sem burocracia.
“Os aplicativos dinamizam a relação de trabalho e geram renda, sem precisar bater cartão, para autônomos, que podem construir sua jornada de trabalho”, afirma Marcos Carvalho, diretor da ABO2O. “É preciso buscar formas de intensificar a atuação dos aplicativos, e não punir quem propõe mudar essa dinâmica de que as empresas têm que cumprir uma série de obrigatoriedades para depois ganhar”, continuou.
Questionado sobre a isenção das empresas sobre a segurança do motoboy, que conquistou um adicional de periculosidade à remuneração por meio da lei federal 12.997/2014, o diretor da associação atribui os riscos da profissão à falta de políticas públicas para a melhoria da mobilidade urbana, não ao serviço prestado.
“O risco é natural em todos os modais de transporte quando se tem uma estrutura urbana caótica. A questão é reivindicar políticas públicas pela melhoria da sinalização e pela educação no trânsito”, opinou.
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