Obra é a última do projeto da Secretaria Municipal de Cultura para homenagear personalidades negras da cultura paulistana; inauguração integra a programação
em comemoração ao Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), anuncia a inauguração da escultura em tributo a Carolina Maria de Jesus em 28 de julho, na Praça Júlio César de Campos, Parelheiros. Esta é a última obra a integrar o projeto que propõe criações, todas feitas por artistas negros, para homenagear personalidades negras da cultura paulistana. A inauguração integra a programação em comemoração ao Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha.
“Uma mulher negra, escritora, favelada, Carolina Maria de Jesus é uma inspiração para todas nós que vivemos na periferia da cidade”, conta a Secretária Municipal de Cultura, Aline Torres. “Essa homenagem singela, feita por uma artista negra, é uma lembrança de que nós, mulheres, nunca abaixamos a cabeça: temos voz e essa voz deve ser ouvida. Carolina Maria de Jesus saiu da favela e imortalizou a sua voz nas páginas dos livros para toda a história e essa escultura está aqui, no extremo sul da cidade, para nos incentivar e nos lembrar disso.”
A obra é uma escultura figurativa em bronze representando a autora de “Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada” em tamanho um pouco menor que o natural, sentada em uma base de pedra granito com sua cabeça altiva e pensativa, com uma caneta e um livro na mão. No seu colo papéis avulsos se somam à composição da obra e uma imagem em alusão a sua antiga moradia na favela do Canindé. As dimensões totais da obra, incluindo a base de granito, são de 129 cm de altura, 50 cm de largura e 30 cm de profundidade.
A primeira escultura a ser inaugurada, em dezembro de 2021, foi um tributo a Itamar Assumpção, no Centro Cultural da Penha. No mês de abril, ocorreram mais duas inaugurações: a de Madrinha Eunice na Praça da Liberdade, em 02/04; e a de Geraldo Filme na Praça David Raw, em 21/04. A obra mais recente foi a de Adhemar Ferreira da Silva, em 15 de maio, localizada na Avenida Braz Leme.
A programação do Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha traz também o samba da periferia e as vozes das mulheres negras para o palco do Theatro Municipal. O espetáculo inédito “Samba das Moças” simboliza uma nova ocupação da mais emblemática casa de ópera da cidade, com mais diversidade de gênero e raça, agora com o protagonismo de artistas negras em um espaço historicamente branco. É a primeira vez que Grazzi Brasil, Gabby Moura e Bruna de Paula, cantoras negras da nova geração, sobem ao palco do Theatro, em show que acontece na segunda-feira, 25 de julho, às 20h. Os equipamentos culturais descentralizados também recebem uma vasta programação em homenagem à data.
Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus é uma das primeiras escritoras negras do Brasil, consagrada como uma das mais importantes com o livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. Publicada em 1960, a obra ganhou reconhecimento internacional e foi traduzida para mais de 15 idiomas. Nela, conta a rotina da favela do Canindé, São Paulo, onde residiu a maior parte de sua vida.
Construiu sua própria casa, usando qualquer material que pudesse encontrar – madeira, lata e papelão. Para conseguir sustentar a si mesma e seus três filhos, trabalhava como catadora de papel. O lançamento do livro, assim como o sucesso de vendas, representou a saída de Carolina da favela, mas também a hostilidade dos moradores de lá, que se sentiram expostos nos relatos.
Depois da publicação de Quarto de Despejo, mudou-se para Santana e, em 1969, para Parelheiros. Nesta época, contudo, parou de receber o pagamento dos direitos autorais e teve de voltar a trabalhar como catadora de papel. Morreu aos 62 anos, em seu quarto em Parelheiros. Até hoje, seu trabalho e obra são objetos de estudo não só no país, mas ao redor do mundo.
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