Fechamento de pronto socorro de 6 hospitais de SP gera protestos

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A população atendida em quatro hospitais estaduais da cidade de São Paulo e outros dois hospitais de Guarulhos e Taboão da Serra, na Grande São Paulo, foi surpreendida com o anúncio feito pelo governo do estado de fechamento do pronto atendimento nas unidades. A mudança gerou protestos na tentativa de que os hospitais permaneçam com as portas abertas aos moradores.

Desde o dia 1º de fevereiro, os pacientes que vão espontaneamente ao Hospital Geral do Itaim Paulista e ao Vila Alpina, na zona leste da capital, ou ao Pedreira e ao Grajaú, na zona sul, são dispensados e orientados a procurar outras unidades.

A recomendação do estado é a mesma no Hospital Geral de Pirajussara, em Taboão da Serra, e no Hospital Geral de Guarulhos, na região metropolitana.

Claudia Maria Afonso de Castro é conselheira e integrante do Movimento Popular de Saúde da Zona Leste. Ela afirma que a decisão de fechar o pronto atendimento não foi discutida com a sociedade e que a unidade do Itaim Paulista é referência para cerca de 800 mil moradores dos distritos Itaim, Curuçá e parte do Jardim Helena, sem contar as cidades vizinhas: Itaquaquecetuba e Ferraz de Vasconcelos.

“De repente, as pessoas perdem dois hospitais na zona leste. No Itaim, este é o único hospital no território. Aqui nem UPA tem. Não saiu do papel, mas estava prevista no orçamento do ano passado. Em outros locais construíram uma UPA para o pré-atendimento. O SUS é pra todos, em qualquer lugar. Não dá para controlar o fluxo de pacientes de outras cidades. Muitos vão à pé pela proximidade”, diz a conselheira.

Para Claudia de Castro, não houve planejamento antes da tomada de decisão: “Até o conselho do Estado questionou a implementação sem controle social. O trabalho é sempre em rede, mas não houve um combinado. A decisão arbitrária foi tomada e quem paga o preço da redução do custo de um serviço é a população que deixa de ser atendida e tem que procurar outro lugar”.

Restrições no atendimento

Segundo o governo do estado, as alterações no funcionamento das quatro unidades de São Paulo “objetiva priorizar o atendimento a casos graves e gravíssimos nos hospitais mais capacitados e equipados. A partir do dia 1º de fevereiro, este processo se inicia de forma gradativa e ocorrerá no decorrer de 90 dias”.

A previsão, no entanto, era de que, no período, os hospitais estaduais atendessem os pacientes com quadros mais leves, mas já orientando as pessoas sobre a mudança de fluxo.

Mas, na prática, os pacientes que não estão em emergências médicas são dispensados e recebem uma lista com outras unidades de saúde. Sandro foi ao hospital do Itaim na terça-feira (2) com cólica renal depois de já ter procurado atendimento em um posto de saúde. “Aqui é só emergência, disseram. Mediram a pressão, mas não fui avaliado, mandaram voltar pra onde fui. Agora vou ter que procurar outro hospital pra ir porque a dor continua”, conta.

Euclides Kiko Mendes é líder comunitário na região da Vila Itaim. Segundo ele, é preciso protestar, como fizeram na quarta-feira (3), para tentar mudar a decisão do estado. “O governo quer reduzir em mais ou menos 13% o repasse ao Hospital Santa Marcelina do Itaim. O Pronto Socorro atende mais de 10.000 pessoas ao mês. Só em 2020 o hospital foi responsável por 3.500 partos e por mais de 4.000 casos de covid-19. Na unidade trabalham 1.500 funcionários e 10% do quadro pode ser demitido”, revela.

Assim como Claudia, Kiko acredita que haverá sobrecarga na rede: “Não dá para o estado achar que a prefeitura vai absorver essa demanda sem uma UPA. Vamos sofrer se isso acontecer”.

O outro lado

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que realiza encontros semanais com o Governo do Estado para acompanhar a mudança no atendimento dos quatro hospitais estaduais “visando manter a qualidade dos atendimentos nos equipamentos de saúde da rede municipal”. O acompanhamento tem duração prevista de três meses. E completou: “A Secretaria realiza o monitoramento diário para acompanhar o aumento na demanda e o impacto, para assim, discutir soluções nas reuniões com o Estado”.

A Secretaria Municipal de Saúde garantiu que os hospitais e unidades do município seguem atendendo normalmente e citou que, apenas no dia 1º, foram realizados 10.207 atendimentos nas 15 UPAs, nove Prontos Socorros Municipais e quatro PA (Prontos Atendimentos) Municipais. No dia 2, foram outros 12 mil atendimentos nas seis coordenadorias regionais de saúde.

Já a Secretaria de Estado da Saúde afirmou que a decisão foi tomada em conjunto com a prefeitura “para dar início ao processo de orientação à população para o redirecionamento da demanda dos Prontos Socorros estaduais citados pela reportagem aos serviços da rede de saúde municipal”.

O governo destacou também que “simultaneamente, a saúde municipal organiza sua rede para incorporar a demanda e um grupo técnico com representantes das duas secretarias avalia o andamento das ações e define medidas de apoio para condução desta iniciativa”.

A Secretaria Estadual de Saúde ressaltou ainda que “mantém uma estratégia especial de gestão de leitos hospitalares para dar prioridade à internação de pacientes com quadros respiratórios agudos e graves, com suporte da Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde), sistema online que verifica vagas disponíveis em hospitais do SUS em SP, para as transferências”.

A pasta enfatizou que eventuais transferências inter-hospitalares ou intermunicipais de pacientes serão feitas se houver necessidade.

• Por Joyce Ribeiro, do R7

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