É imperativo se aproximar, entender e dialogar com os filhos

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Aparentemente o trágico acontecimento em uma escola pública em Suzano, cidade do Alto Tietê na Grande São Paulo, onde alunos foram vitimados por um atentado promovido por dois ex-alunos que tiveram, também, fim trágico, suscitou discussões e teses importantes sobre as razões que levariam a tão drástica atitude por parte dos atiradores.

Pois bem, as mais lucidas e consistentes explicações colocam como motivador do atentado o isolamento dos jovens que o promoveram; a solidão; a falta de ajustamento comportamental e a autonomia que tinham em frequentar ambientes da rede social, inclusive a parte mais sombria e menos saudável do que hoje a internet comporta, ou seja, espaços clandestinos classificados como a internet escura, se assim podemos simplificar.

Nesta edição tive oportunidade de estar em contato com três pessoas, formadoras de opinião, para tratar de assuntos de interesse geral, mas que durante a conversa permitiu-se que eles registrassem a preocupação que indicamos acima. Tanto a educadora Rose Gouveia, como a comandante do CPA/M-9 da Polícia Militar do Estado de São Paulo Cel. Daniele Cristina Freitas e o presidente do Rotary Clube São Mateus, Antônio Carlos e a esposa Clélia Marcílio alertaram para a urgência de pais ou responsáveis por crianças, adolescentes e jovens em desenvolvimento se reaproximarem destes, muito além do suporte material que em geral lhes são dados.

Ficou evidente, e essa já era uma compreensão minha, que a distância que os pais desta geração têm de seus filhos, com os quais a convivência real e presencial é a menor possível, leva ao desamparo emocional destes.

Atualmente, os pais, em geral muito ocupados, se desdobram em atender as demandas materiais de seus filhos e tentam prover a estes em todas as suas necessidades e pedidos, até mesmo os mais supérfluos para compensar a ausência daquele que lá deveria estar para escutar, entender, compreender as situações orientando, conversando, coibindo e até mesmo cortando excessos, delegando direitos e deveres.

Parece que assumir essa tarefa que não pode ser delegada a nenhuma outra pessoa, escola, igreja, clube, etc., não está mais nos planos desses pais, apesar de eles se acharem o provedor maior; aquele que dá o que precisa e o que não precisa, mas que ao final mima demais, protege demais, desculpa demais e freia e dá regra de menos aos seus filhos.

O caminho para se achar o ponto certo do quanto se deve apoiar e do quanto se pode criticar, punir e se responsabilizar os filhos, vem dessa prática simples do conversar fora da rede, em momentos específicos para isso, quanto mais, melhor, sem distrações e pressa.

Envolver as crianças no cotidiano natural da casa, das saídas para passeios, dos programas que podem ser feitos juntos, pais e filhos é uma das melhores receitas para uma vida familiar saudável do ponto de vista emocional e isso é tão ou mais importante que as prendas que dão aos seus filhos, que por receber quase tudo de ‘mão beijada’, não sabem o exato valor das coisas e das conquistas.

Façamos nós como pais, tutores e responsáveis esse exercício e esforço de resgatar a relação com olho no olho, dando o ombro para apoio quando necessário e bronca e puxão de orelhas quando necessário. Enquanto tentamos achar o ponto exato dessa retomada, não há espaço e tempo hoje para se omitir em acompanhar o que vê, como usa, com quem e com o quê se relaciona nossos filhos nessa rede mundial.

Claro que esse acompanhar e monitorar têm que ser entendido e levado a cabo sem excessos: não podemos coibir e tirar toda a liberdade de navegação e uso das redes sociais dos filhos, mas temos, sim, que estar atentos para que estes seres, em desenvolvimento, andem por caminhos saudáveis e não obscuros como os frequentados pelos atiradores de Suzano.

Por Lucy Mendonça

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