São Mateus completa 70 anos e ainda está fora de ordem
No dia 22 de Setembro São Mateus completou 70 anos de fundação e existência como distrito organizado, São Mateus onde além dele próprio juntando-se com Iguatemi e São Rafael compõem o distrito de mesmo nome cresceu, ganhou força e pujança em vários aspectos. Em outros tantos, poderíamos esperar mais.
Nos primórdios, como seria de esperar com atividades modestas para atender o começo da ocupação e desenvolvimento demográfico na região. As necessidades da população, nem todas, e uma gama de comércio e serviços foram ofertadas nas principais avenidas. Passou o tempo e em vários aspectos de atendimento, ainda está aquém do que a região poderia ostentar.
São Mateus saiu de uma população modesta e com características quase rurais para bairros adensados pouco organizados e muitos aglomerados urbanos ocupados irregularmente e sem planejamento. Saiu de um recanto quase bucólico, que com o passar do tempo sempre tentou enfrentar seus problemas, muitos deles ainda persistentes com lutas, reivindicações populares as mais distintas e adequadas aos seus tempos. Como resultado, apesar do crescimento, as carências estão presentes e não foram resolvidas durante todos esses anos para acompanhar a sempre mutante conformação urbana, seja na parte organizada do distrito, seja nas tantas áreas que em São Mateus tem como forte característica a ilegalidade da ocupação e o desordenamento urbano.
Se na segunda metade do século XIX apenas uma grande fazenda de João Francisco Rocha que posteriormente foi dividida em glebas pelo novo dono Antônio Cardoso de Siqueira indicava que as coisas mudariam; hoje temos os lotes ilegais que oportunistas explorando a necessidade de moradia tentam implantar o tempo todo, muitas delas sem a intervenção oportuna do poder público se transformando em comunidades precisando de regularização.
Se lá trás foi a partir de 1946 que a família Bei adquiriu uma das glebas de 50 alqueires de terras loteando-as logo em seguida com muito sucesso chegou-se a situação de bairro pelo filho de Mateo Bei, que deu o nome do seu pai para a localidade, hoje de um dia para outro é possível ver a expansão desenfreada e desordenada de moradias precárias em áreas públicas e privadas e em áreas que deveriam estar sobre proteção por causa do seu potencial ambiental.
Por outro lado, se há uma característica que marca São Mateus é as lutas populares. Através dos tempos pessoas diferentes se uniam para transformar o lugar num bairro de fato. Da mesma forma chegava e ocupa seu espaço o comércio; o primeiro datado de 1949. Lotes da principal avenida comercial eram vendidos e se valorizavam estimulados pelos subsídios dados pelas loteadoras cedendo tijolos e telhas que eram feitas em olarias da região.
Transporte público era uma dificuldade e os empregos para os novos moradores estavam sempre fora do bairro, em geral no centro e o comum era os trabalhadores pegar as jardineiras para se locomover. Se o leitor pensar ainda é difícil. São Mateus apesar de oferecer acesso a outros vários pontos da cidade e das cidades vizinhas, nunca foi de forma eficiente e rápida.
Se tudo de certa maneira era difícil naquelas épocas, ainda sem emprego no bairro, atualmente essa dificuldade se mantém. Pode mudar até de forma, mas as dificuldades ainda estão ai. Só para constar temos em São Mateus um monotrilho como alternativa de transporte público ágil para o centro da cidade de São Paulo como uma promessa não cumprida.
O fato é que o jornal Gazeta de São Mateus tem servido ao longo do tempo como uma espécie de biblioteca de registro do que foi possível resgatar da história do bairro e seus distritos. Os leitores mais assíduos e antigos podem testemunha e lembrar aqui e ali com tem sido essa história, muito bonita alias, em vários aspectos.
Mas nos dias de hoje….
O que poderia ser uma situação bem melhor, com um lugar mais humanizado e até respeitoso com seus moradores, trabalhadores e empreendedores tem deixado o povo pensante e responsável frustrados.
De onde se esperava vigor comercial, ampliação de bolsões de comércio, ofertas de empregos e serviços com fácil acesso; de onde se esperava o poder público provendo os serviços essenciais e de direitos dos cidadãos; de onde se esperava melhoria na segurança pública tão vulnerável na região; de onde se esperava oferta de educação pública de qualidade, assistência social que ampare corretamente os mais vulneráveis; de onde se esperava principalmente organização da ocupação territorial nada se concretizou.
Praticamente todas as edições deste jornal expõem situações onde as diversas comunidades que compõe os distritos mostram precariedades tão impactantes que poderíamos considerar que ainda estão no século passado com o agravante de que hoje, ao invés de poucas centenas de famílias, são milhares.
O fato é que seus 70 anos alguma coisa tá fora da ordem em São Mateus.
Não é mentira ou leviandade afirmarmos que não temos saúde, não temos educação, não temos organização territorial, não temos um povo que preserve o bem comum, não temos consciência de preservação ambiental tão premente, não temos também um setor empresarial e produtivo antenado e solidário, salvo honrosas exceções, com o bem estar da sociedade e também parece não temos um poder público mais zeloso. Ah! e sobre os políticos, temos muitos por aqui; uns bons, outros imprescindíveis e tantos outros dispensáveis.
São Mateus era para estar em situação melhor a que se encontra. Tomara que os próximos anos sejam melhores. (LM/MN)
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