Tivemos notícia este mês da ocorrência de um estupro coletivo no Rio de Janeiro contra uma adolescente de 16 anos por cerca de 30 homens conforme indicam até agora as investigações em curso. Com isso o termo cultura do estupro ganhou as ruas e as redes, com grupos se manifestando pelo fim da violência sexual contra mulheres e crianças e também contra o machismo. Na essência da cultura do estupro está a ideia de que o corpo feminino está ali para ser violado.
Basicamente devemos entender que o combate a essa ideia de que o corpo feminino está à disposição passa pela educação primária, de berço e por um entendimento claro do que significa consentir; quando então, no caso, a mulher aceita a manter relações sexuais. As pessoas precisam ter essa educação primária e sexual de forma adequada para ficar claro que sempre é preciso respeitar os limites e que não faz sentido algum a ideia de que existe uma diferença de poder em que um, o homem, acredita que pode dominar o outro, no caso, a mulher.
Esse combate nesses dias que correm ainda se faz mais urgente tendo em vista que esse caso revelou muitos depoimentos e palpites de entendimentos limitados sobre o ocorrido. Destes depoimentos e comentários foi possível ver que grande parte apontava como responsável pelo ocorrido, a própria vitima. Também não faltaram esforços em desqualificá-la.
Supostas fotos em situação constrangedoras do ocorrido continuam sendo espalhadas na rede para reforçar essa suposta culpa. Até mesmo o primeiro delegado a ouvir a vítima do caso foi afastado por ter perguntado a adolescente se ela teria o hábito de fazer sexo grupal, não conseguindo esconder que já estava indicando certo grau de culpa da vítima.
“Bem antes da castração química, do armamento da população, de penas mais severas para os agressores, queremos ser ouvidas”, diz o manifesto A Proteção que Queremos divulgado dia desses pelo Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, Artemis, Childhood Brasil e Think Olga. No texto está o destaque que há muito pouca ou quase nenhuma chance de as vítimas verem seus agressores serem punidos pelo que fizeram; seja pela situação de vergonha que equivocadamente é direcionada à vítima constrangida a fazer a denúncia; seja pela inquestionável inabilidade da polícia e do judiciário para lidar com esse tipo de crime. Em geral, insiste o manifesto, a regra mais geral é transferir a culpa para a vítima.
A situação é grave se considerarmos que segundo os dados do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, feito a partir dos boletins de ocorrência registrados em 2014 a cada 11 minutos, uma mulher sofre violência sexual no Brasil, o mesmo que uma ocorrência quando você começou a ler este artigo e outra alguns minutos depois de você ter terminado de ler. A situação ainda é mais grave se nos lembrarmos de que os números se referem apenas aos boletins registrados. É público e notório que nem sempre esse tipo de crime é denunciado.
Se na origem da ocorrência desse brutal tipo de crime ele é patrocinado pela ignorância, pelo desrespeito e por uma visão machista que se reproduz geração em geração, há que ter alguma disposição e empenho da sociedade e das famílias para discutir, debater e combater o machismo que está na sua gênese.
Que nos sirva de motivação o despertar recente das mulheres brasileiras para denunciar e colocar-se contra a violência dessa e de outras naturezas. Se nos basearmos na batalha das ideias que se trava nas redes sociais, especialmente neste período, esse despertar não tem mais volta e que assim seja. (JMN)
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