Liderança tenta ajudar catadores a serem autônomos

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A ideia de organizar os catadores de ‘lixos’ recicláveis que não se dispõem a fazer o seu trabalho através de cooperativas se transformou em tese de pós-graduação da ativista Sueli Rodrigues da organização não governamental – ong Cemais. Consequentemente se aproximou da realidade desses catadores em São Mateus, zona leste da Capital.
A Cemais é uma ong que foi criada no bairro para trabalhar de forma ampla com as questões ambientais diante da situação de degradação da vegetação nativa do bairro como resultante das seguidas ocupações de áreas para efeitos de moradia. Do condomínio Santa Bárbara para o bairro todo e com atuação na esfera municipal a entidade tenta, desde então, estar inserida nas discussões e ações de natureza ambiental. No mínimo a entidade trouxe a pauta do meio ambiente para ser debatida e inserida de forma intersecretarial na construção das políticas públicas.
Sueli Rodrigues tem um olhar critico para o modo de organização e atuação das cooperativas que, de forma coletiva, tentam criar excedentes com o reaproveitamento dos resíduos recicláveis e com a partilha entre seus cooperados. O fato é que na modalidade de cooperativa a que ela se refere os direitos trabalhistas encontrados em atividades com vínculos empregatícios tradicionais não são oferecidos. É dessa relação aparentemente desvantajosa que muitos catadores tentam escapar tentando se sustentar com a atividade ainda de forma muito precarizada.
Segundo a ativista a municipalidade, representada pela subprefeitura de São Mateus não ajuda essas pessoas. Se algum compromisso eles tem, em geral, são com as cooperativas. Para Sueli, entretanto, o que produzem de inservíveis os cerca de 600 mil habitantes de São Mateus é muito significativo. As cooperativas não dão conta de aproveitar tudo isso e sem coleta seletiva promovida pela municipalidade grande parte disso vai parar nos aterros. Não precisava ser assim, acha.
No começo do trabalho não era fácil. Ainda não é. Sueli lembra que as primeiras tratativas com os catadores individualmente não prosperavam porque eles eram e continuam arredios. Insistente, com o tempo e a dedicação à questão, entendeu de considerar como parceiros também os sucateiros; os que ao final compram os materiais que esses catadores individualmente conseguem arrecadar. Sueli critica a visão da municipalidade e de outros segmentos que entendem serem os sucateiros, apenas exploradores dessa mão de obra.
“Quando fui selecionada na Universidade Federal do Estado de São Paulo – Unifesp, achei interessante fazer a pesquisa de campo com os catadores até mesmo para reforçar as criticas às cooperativas que entendo serem lesivas ao trabalhador. Ao tentar entender melhor essa engrenagem conheci os catadores e comecei a construir essa relação que passou pelos sucateiros também. Nesse modo de empreendimento que acredito, sem os sucateiros, não funciona”, explica.
“Tenho catador que em certas ocasiões conseguem aferir 100 quilos ao dia. Imagina isso ao longo do ano e multiplicado por esses cerca de 20 catadores que estão afinados com essa proposta. Quanto eles contribuem para reciclar e evitar o uso de aterros”, pergunta, embora já tenha a resposta. Por isso o projeto que ela denomina Adote um Catador e com o qual tenta justificar e sensibilizar outros com a proposta.
Através desse olhar e dessa proximidade com os catadores, com os quais se reúne com alguma regularidade, pretende construir propostas de políticas públicas voltadas para esse segmento. O fato é que existe dificuldade de organização; além de viabilizar atendimento e acompanhamento em saúde através dos equipamentos públicos, Sueli tenta organizar a entrega mais rotineira de cestas básicas aos envolvidos como forma de estimulo.
Sueli deseja que essa modalidade de catador seja valorizada e que estes sejam vistos como profissionais. Nesse sentido imagina que a construção da proposta ainda não finalizada deva contar com o apoio de vereadores, eventualmente da próxima legislatura para ser aprovada e adotada. “Quero construir uma proposta de políticas públicas. De forma autônoma baseada nas leis. Construir para apoiar o catador autônomo de reciclagem na cidade de São Paulo, para que eles possam se apresentar no comércio, no polo industrial com seu crachá, identificados, combinando dias e até horários em que passariam para retirar o material, etc.”, explica.
Enquanto isso não se dá, Sueli tenta viabilizar outras iniciativas que os ajudem. Ocupar um terreno público para uma eventual horta comunitária está nos planos. Segue sozinha com o apoio parcial da Associação dos Moradores da Nove de Julho e da ProAsa, duas entidades locais. De outros possíveis apoiadores, muita decepção. “Muitos queriam ajudar com suas propostas, mas cobrando e não era pouco. Fora de nossa realidade e intenção”, acusou.
Seguindo os cronogramas, Sueli pretende defender sua tese; elaborar um documentário e um livro sobre essa realidade, ou o que entende ser a vida de um catador autônomo que como ela mesma indica deverá ser capacitado para ser um micro empreendedor individual e dessa forma estar regularizado.
A reportagem, entretanto, diferente da liderança, entende que o poder público tem responsabilidades com as formas organizadas da sociedade, que atendam segmentos e não as necessidades individuais. Por isso a opção da municipalidade por algum apoio às formas cooperadas de organização. O poder público tem ainda responsabilidade em oferecer alternativas como a coleta seletiva, mas não consegue oferecer e/ou ampliar.
À medida que o individuo decide por ter sua livre iniciativa enquanto autônomo ou empreendedor, ao poder público cabe apenas à regularização das atividades conforme definidas em lei.

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